Programa com Roberto Carlos foi um dos últimos de Jô Soares na Rede Globo: dia de muita emoção para fãs da dupla |
Por: Walter Brito
Fragilizados emocionalmente com tanta
notícia ruim Brasil afora, acredito que a maioria dos brasileiros que assistiu
ao programa do Jô na sexta-feira, dia 9/12/2016, quando ele entrevistou Roberto
Carlos: chorou junto com os dois ícones da cultura e do entretenimento
nacional. O choro não foi no início e nem no meio do programa, mas no final.
Foram lágrimas de muita emoção ao assistirmos as duas feras dos palcos e da
televisão, num momento em que estamos órfãos de referências, que nos estimulem
e nos deem forças para continuar carregando nas costas, o gigante de 12,712
milhões de quilômetros quadrados.
Quando o músico do Jô, o saxofonista
Derico Sciotti; calculou que os dois ídolos tinham juntos 115 anos de carreira,
nós passamos a vibrar mais ainda com a vitalidade, a animação e o
profissionalismo impecável, da verdadeira dupla brasileira: Jô e Roberto. O
provérbio Irlandês diz que: “as lágrimas derramadas são amargas, mas mais
amargas são as que não se derramam”. Os telespectadores, tanto do auditório quanto
em casa, certamente estavam na ânsia de derramarem suas lágrimas amargas, mas
como a revolta é tanta com as infinidades de desmandos no Brasil sem rumo, as
lágrimas não caíam.
A fantástica entrevista da última
temporada do Jô na Globo, mostrou com palavras simples e de muito afeto: o
carinho e a amizade de dois artistas que convivem por quase seis décadas no
meio artístico, quando nos ajudaram a atravessar diversas crises políticas e
econômicas com uma voz afinada, música genial e uma piada inteligente, aqui e
acolá, que obriga o povo a pensar. O respeito e a admiração de um pelo outro,
notamos do início ao fim: o olhar, o perguntar, as marcas do tempo no rosto de
cada um, que inexistiam na Jovem Guarda. Talvez estes fatores, tenham sido os
impulsos para uma choradinha no final do programa, quando Roberto Carlos, que
prefere entoar suas canções de pé: permaneceu sentado em reverência ao seu
entrevistador. Emocionado Roberto
cantou, dele e de Erasmo Carlos, “Amigo”.
Ao tirar os óculos, o Jô mostrou
intuitivamente para Roberto e os telespectadores, do Brasil e parte do mundo,
onde o programa alcança, suas lágrimas.
Logo, nós desabamos em casa e, acredito que boa parte dos brasileiros
também, pois foi muita emoção, num momento de crise como a que se apresenta. A
crise moral pela qual passa o povo brasileiro é maior que a crise econômica e
política. Por isso, acho que a entrevista do Jô com Roberto Carlos, sem falar
no assunto dos problemas nacionais, sem sombra de dúvidas foi um momento ímpar,
quando o povo se sentiu mais brasileiro e corajoso, inclusive para chorar.
Foi uma entrevista leve, mas cada
pergunta e resposta tocaram as pessoas. O Jô fez perguntas simples,
inteligentes e que dificilmente se viu com tanta descontração em outras que o
Rei concedeu, principalmente no que diz respeito às curiosidades referente à
vida do SuperStar. Apesar de simples, as
perguntas vinham com uma certa malícia e, simples, eram também as respostas;
além disso, sempre com uma dose de humor e emoção. Ao dar aula como jogar flores para o público
em seus shows, quando está ventando, Roberto ensinou que é preciso saber a
intensidade do vento, como também o lugar certo e o momento de jogar a flor. Neste
sentido, o Rei falou sobre o vento de cauda, o vento de frente e o vento de
través. Jô ficou boquiaberto! O público no silêncio total, pois todos queriam
saber os segredos do artista para jogar suas flores.
Roberto respondeu ao Jô sobre o seu dia
a dia, o seu controle dos sintomas do TOC. Neste caso do Transtorno Obsessivo
Compulsivo, ele disse que melhorou muito, apesar de ainda conferir mais de uma
vez, se o seu carro está fechado.
Referente à fase que usou cachimbo, o Rei afirmou que funcionava como
muleta. Exemplifica ele: “quando alguém ligava para mim, eu atendia o telefone
e dizia ao meu interlocutor -, espere só um pouquinho: - acendia o cachimbo,
dava uma baforada e continuava o papo”. O artista parou de usar cachimbo por
causa de amigdalite inflamada num período em que colocava voz em um de seus
discos nos EUA.
Uma das revelações que deixavam o Brasil
intrigado era se Roberto tinha voltado a comer carne. Roberto revelou ao Jô que
ficou sem comer carne por 32 anos, mas, orientado pelo seu médico
ortomolecular, ele voltou a comer carne de forma moderada. Sobre as badalações
da vida noturna, Roberto falou que não sai mais, entretanto na juventude ele
saia muito e frequentou a mesma boate frequentada em Copacabana, pelo Jô Soares
e a Jovem Guarda nos anos 60. Hoje ele é caseiro e deu a receita da felicidade,
quando brincou: a melhor coisa da vida é “ sexo com amor; sexo e depois
sorvete”, nesta sequência disse o Rei Roberto Carlos, que se fez de rogado
quando o astro da meia noite indagou se ele estava namorando.
Durante Programa, Roberto Carlos fez revelações sobre sua vida privada e relembrou episódios que viveu ao lado de Jô |
PERGUNTA
Uma pergunta que mereceu ilustração no
telão da Globo foi a foto do Rei e do Ronnie Von nos anos dourados da Jovem
Guarda. A foto dos dois foi mostrada, oportunidade em que o Roberto aparecia
com seus cabelos longos e encaracolados e Ronnie com sua bela cabeleira lisa.
Roberto Carlos disse que passava horas e horas fazendo touca para se apresentar
bem, enquanto seu colega não tinha trabalho nenhum. Jô perguntou se Roberto
tinha inveja do cabelo de seu amigo. Roberto disse que não. Vale lembrar que os
dois cantores na juventude tinham uma certa rivalidade, pois eles disputavam os
fãs por meio de suas músicas e dos programas de TV que apresentavam, com os
títulos de Rei e Príncipe. Jô insistiu na pergunta e Roberto arrematou, com
carinho e elegância: “não tinha nenhuma inveja do Ronnie Von. Naquela época ele
fazia sucesso nem só com sua cabeleira, mas com sua beleza física mesmo. Quando
cantava suas músicas as meninas vinham ao delírio, especialmente a canção Meu
Bem”.
Roberto Carlos ainda falou com muito
carinho da sua cidade natal Cachoeiro do Itapemirim, dos sanduiches de
Briochão, com ovo e peito de peru, que ele gosta de fazer em sua casa; da
biografia de sua vida que vai virar filme.
O cantor também relatou sobre o ritual que ele e o Erasmo Carlos têm
para compor suas músicas: “eu janto às 22 horas e alguns minutos depois vou
para cama e durmo por uma hora. É o tempo certo para a chegado do Erasmo.
Trabalhamos em nossas composições e melodias até alta madrugada. Muitas vezes é
na madrugada que surgem as grandes inspirações”. O Rei deixou claro ali, que
Erasmo Carlos, além de ser seu maior amigo, é o compositor e parceiro que ele
espera ter até o final de sua vida. Depois de tanta adrenalina, Roberto cantou
a música “Amigo” sentado ao lado do Jô e o Brasil chorou junto com duas pessoas
que de fato merecem o nosso respeito.
A comunidade afrodescendente
espera que, quando o Roberto e Erasmo se reunirem para compor, que se lembrem
do tema “Mulher Negra”, um dos poucos que ainda não foi reverenciado em suas
belas canções. Nesta seara, o poeta e compositor de Brasília-DF-UnB, Antônio
Victor: compôs uma música (inédita), que é a cara de Roberto Carlos. Em
tempo, Roberto disse antes de se despedir, que foi ele quem pediu para participar
do Programa do Jô naquela noite. O Rei deixou transparecer que onde Jô for com
o seu programa, ele estará ao seu lado. No dia 16/12, o jornalista, humorista e
escritor Jô Soares, se despediu da TV Globo.
Emoções marcaram encontro que, da forma que ocorreu, não deve se repetir mais: Jô já não faz parte da Rede Globo |
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